Três bizarrices (duas suas e uma minha)

by

Gritar é a coisa mais bizarra que a gente faz. De medo, de alívio, ou quando o Internacional foi campeão. Outra coisa estranha que acho é a economia de cumprimentos. A gente vê um conhecido do outro lado da calçada e finge que não, só para não ter o trabalho de cumprimentá-lo. Mas há situações em que é inevitável. No elevador, por exemplo. Perguntamos oi, tudo bem? E em vez do outro responder que está tudo bem, obrigado, ele simplesmente repete “oi, tudo bem?” mostrando, com essa frase pronta, que não quer conversar, mas apenas se ver livre o mais rápido possível da obrigação do cumprimento. Se encontramos essa pessoa pela segunda vez no mesmo dia, evitamos o fardo de ter que cumprimentá-la. A gente apenas dá um sorrisinho complacente olhando pra pessoa, que significa “te vi, tá?”, já que não pudemos evitar.

Mas vou contar uma bizarrice minha, um segredo. Eu prendo a respiração quando cruzo com alguém na rua. É uma coisa que aprendi a fazer em Uberlândia. Isso pra não ter que sentir o cheiro dos bêbados e mendigos que passavam por mim. Não que eu seja contra mendigos. É diferente. Ainda mais pra quem já foi assaltado quatro vezes lá.

O primeiro desses assaltos me ensinou a odiar alguém. Eu odiei com todo o meu coração alguém de quem eu não sabia o nome, as culpas, nem nada, apenas que ele fedia e que estava alguns reais mais rico por minha causa. Naquele dia, as coisas começaram a parecer injustas. Mas pelo menos não gritei.

One Response to “Três bizarrices (duas suas e uma minha)”

  1. Varg Vikernes Says:

    Provavelmente, a aura que envolve a minha vida social.

Leave a comment